Parteiras que trouxeram ao mundo 1,4 mil crianças darão nomes a escola e posto de saúde em Venda Nova

18 de maio de 2023 às 14h42.

Há muitas décadas, os serviços médicos eram escassos e as parteiras ocupavam um posto necessário e especial em Venda Nova do Imigrante. Dona Brígida Elisabetta Bernabé Feitosa foi uma dessas mulheres que doou seu tempo e seu conhecimento para fazer o parto de mais de mil crianças da região. 

Na última terça-feira, a Câmara de Vereadores de Venda Nova do Imigrante aprovou os Projetos de Lei 24/2003 e 39/2023. O primeiro, de autoria do vereador Amilton Marques Pacheco, denomina a Unidade de Saúde do Alto Caxixe Frio com o nome de Ângela Uliana Peterli. O segundo, de autoria da vereadora Aldi Caliman e do presidente da Câmara de Venda Nova, Erivelto Uliana, denomina de Brígida Elisabetta Bernabé a Escola de Educação Infantil localizada no bairro Vila da Mata. 

Ter os nomes ligados locais que ensinam crianças e cuidam das pessoas são homenagens merecidas e simbólicas para mulheres que iniciaram os atendimentos de saúde em Venda Nova do Imigrante.

Dona Brígida nasceu em 1907 e se casou com Antônio Roberto Feitosa, farmacêutico prático da cidade e também parteiro. Juntos, deixaram um legado de saúde e vida para o município. Brígida fez cursos ou treinos voltados às parteiras tradicionais no exercício das suas atribuições. Por exemplo, o Dr. Euwaldes Lacerda Amigo, um obstetra, vendo a necessidade tão grande do interior, promoveu cursos práticos de parteira na Santa Casa de Misericórdia de Castelo. Brígida ficava de três a quatro dias fazendo o curso no local e voltava correndo para seus afazeres em sua casa.

Dona Ângela nasceu em 1929 e, como dona Brígida, dedicou sua vida ao próximo. Ela atendia aos chamados nas comunidades de Forno Grande, Caxixe Quente, São Paulinho do Aracê, Fazenda do Estado, Jucú, São José de Viçosa e Aracê (Pedreiras). 

Conheça um pouco da história de dona Brígida Elisabetta Bernabé Feitosa, a “Dindinha”

A homenageada Brígida Elisabetta Bernabé é filha de GiuseppeValério Bernabé e Izabel Passamani, nascida em 29/11/1907 em Nova Mantoa, Alfredo Chaves, Brasil. Ela era a quinta filha de um total de 6 filhos que o casal teve enquanto residia em Alfredo Chaves. Em 04/08/1913, quando Brígida tinha 6 anos de idade, a família de seu pai, Giuseppe, se mudou para a região da Fazenda do Centro, município de Castelo. 

Àquela altura já havia escassez de terras para assentar imigrantes provenientes da Europa nas glebas de terras que eram ofertadas na região de Alfredo Chaves. Em 08/10/1917, estando a família estabelecida na localidade de São Luiz/Campestre, Izabel, a mãe de Brígida, faleceu de parto da sua filha de mesmo nome Izabel. Essa, por sua vez, também veio a falecer aos 19 meses de idade devido a uma infecção tipo fístula no dente. 

A avó paterna de Brígida, Ângela Andreatta, que havia mudado para a casa do filho Giuseppe para lhe prestar apoio nos cuidados da recém nascida e da prole de 8 (oito) filhos, também veio a falecer 15 dias após o falecimento da neta Izabel. O falecimento, em sequência, da mãe, irmã caçula e avó, foi uma provação muito desafiante para Brígida. 

Uma criança de apenas 10 anos de idade, se deparou numa situação de fortes responsabilidades, uma vez que precisava ajudar Maria, sua irmã mais velha, que tinha plano de casar e mudar para o norte do estado do ES. Os parentes, vizinhos e amigos alertaram Giuseppe, que Brígida era muito criança para estar com tanto envolvimento e responsabilidade de cuidar da casa, lavar roupas pesadas de roça e outras muitas obrigações de uma casa com muitas pessoas num ambiente rural. 

Por volta de 1920, Giuseppe casou-se com a viúva Argia Casagrande que trouxe junto com ela mais três filhos do casamento anterior (Ângelo, Ida e Marieta), aumentando a prole da família para um total de dez filhos. Desse novo enlace ainda surgiram mais dois filhos (Euzébio e Florentino), totalizando 12 irmãos. 

A união familiar não poderia ser mais perfeita e harmônica. Todas as crianças se engajaram muito bem e numa interação invejável de bons relacionamentos, que perduraram até os últimos dias de vida de cada um deles. Os filhos de Giuseppe do primeiro casamento tinham verdadeira adoração e respeito pela nova mãe e os da Argia reciprocamente pelo novo pai.

Em 9 de fevereiro de 1929, Brígida se casou com Antônio Roberto Feitosa e foram residir numa pequena parte do complexo da Fazenda do Centro, onde tinham casa e farmácia próximas e dentro do mesmo conjunto arquitetônico. Eles viveram lá por seis anos e nessa localidade tiveram três filhos: Haydê, José (faleceu criança por ter contraído crupe) e Joel. Por volta de 1935 a família se mudou da Fazenda do Centro para Venda Nova. 

Receberam terreno e uma casa, doados por Ângelo Altoé, onde foram estabelecidas sua residência e farmácia, podendo assim dar assistência e suporte à saúde numa ampla região de Venda Nova e cercanias. Em Venda Nova eles tiveram os novos filhos Carmem, Isabel, Jose Anchieta, Máximo, Robertinho (falecido criança por ter contraído meningite) e Leandro. 

Quando a família chegou a Venda Nova, Antônio Roberto, em seu exercício como farmacêutico prático na comunidade, passou também a atuar e interagir com a parteira aqui existente, a Sra. Elena Caliman Sossai. Ele também foi parteiro e, por isso, passou seus conhecimentos para a esposa Brígida que, em razão das prementes demandas, foi tendo essa função naturalmente transferida e polarizada na pessoa dela. 

Por uma questão da relação de vizinhança, algumas vezes, as amigas Celeste Altoé ou Rosalina Pagotto prestavam apoio a Brígida em certos casos de parturientes localizadas nas proximidades da sua residência. Ela fez cursos ou treinos voltados às parteiras tradicionais no exercício das suas atribuições. 

Por exemplo, o Dr. Euwaldes Lacerda Amigo, um obstetra, vendo a necessidade tão grande do interior, promoveu, junto com a Acares, cursos práticos de parteira que foi ministrado na Santa Casa de Misericórdia de Castelo onde a Brígida ficava três a quatro dias fazendo o curso e voltava correndo para seus afazeres em sua casa. Ela tinha um caderno com a notações a respeito dos partos que fazia, mas, infelizmente, a uma certa altura, consta que este registro foi perdido. 

Estima-se que ela tenha feito mais de mil partos na região e ela sempre agradeceu a Deus revelando que nas mãos dela, ao meio de tantas parturientes por ela assistidas, nunca ocorreu óbito. Ela tinha experiência mais que suficiente para identificar casos graves e assim os encaminhava para profissionais médicos. O atendimento às parturientes muitas vezes envolvia deslocamentos para regiões distantes e ermas, de difícil acesso e sem as mínimas condições de higiene, saúde e bem estar. 

Não havia agenda ou programação. As pessoas apareciam “do nada” solicitando atendimento de emergência que exigia deslocamentos a locais distante como, por exemplo, em Mata Fria, Serra do Boi, Alto Jucu, Pedra Azul, Barcelos, São Paulinho de Aracê, Pedra Azul e Forno Grande. Eram situações onde ela tinha que abdicar de todas as suas atividades para ir prestar o socorro solicitado. A dedicação às demandas da comunidade era muito intensa. 

Ela ia, às vezes em cima de um caminhão que tinha que sair, por exemplo de Alto Jucu ou de Venda Nova com a parturiente abrigada na carroceria ao meio de colchões improvisados, viajando para Castelo, cujo trajeto demorava duas horas e meia a três horas e ainda às vezes com a paciente em hemorragia e tudo isso sob uma inquietante tentativa de salvá-la. Chegando a Castelo, ia para a Santa Casa e lá junto com Dr. Euwaldes Lacerda Amigo, ou com Dr. Mario Correa de Lima, ou com o Dr. Gastão Correa de Lima, ou com Dr. Cicero Correa de Lima, ainda ajudava a fazer o parto para depois vir de volta para casa em Venda Nova, trazida pelo mesmo caminhão que a havia levado. 

A parturiente ficava lá ainda por alguns dias, porque, às vezes, ainda dependia de mais cuidados. Incontáveis são os números de afilhados de batismo que o casal teve na região do município. A título de exemplo pode-se registar entre os afilhados de batismo, dois senadores da República, os senhores Camilo Cola e Gerson Camata, que também foi Governador do Estado. 

Coincidentemente, a própria alcunha “Dinda” ou “Dindinha”, para os pequenos, significa “madrinha” e por ela ter sido usada muito enfaticamente por todos que nasceram sob o seu clã, essa forma de expressão para fazer referência a Brígida também se espalhou como usual entre muitos membros da comunidade. 

Brígida, até a presente data, contabiliza nove filhos, 36 netos, 62 bisnetos e 10 trinetos. Todo o seu clã tinha um forte encanto pela matriarca da família e ela os chamava, em especial os netos, de os “meus tesouros”. 

Ela era muito dedicada a trabalhos artesanais manuais, na área de crochê, tricô e costura. O casal Brígida e Roberto foram uníssimos no direcionamento das filhas e filhos para o aprimoramento em educação e esse empenho sempre propiciou alegria e satisfação a ambos. 

Haydê, casada com Olímpio Perim, oito filhos. Joel, casado com Dora Schwambach, quatro filhos. Carmem, casada com Cesário Altoé, cinco filhos. Izabel, casada com Benito Caliman, seis filhos. José de Anchieta, casado com Mirtes Lorenzon, quatro filhos. Máximo, casado com Noemea Zandonadi, três filhos. Leandro, casado com Hideko Nagatani, seis filhos. 

Mesmo com as muitas provações passadas em sua vida, Brígida ainda foi submetida a outras trágicas agruras que marcaram fortemente sua vida. Quando ela estava entre os seus 94 e 96 anos, uma nova tragédia se abate sobre a família. José Anchieta morreu em 12 de maio de 2001 em um acidente com o seu barco no Rio Xingú na região amazônica do Pará. Dois anos depois, em 10 de junho de 2003, Izabel morre de um ataque cardíaco. A circunstância gera a forte dúvida de que a morte poderia ter sido evitada, caso houvesse tido diagnóstico correto de imediato e com administração de medicamento apropriado no tempo certo. Três meses depois de Izabel, em 5 de setembro de 2003, morre tragicamente o outro filho, Máximo, em um acidente na rodovia BR-262. Foi exigido de Brígida, muita resiliência e fé para resistir de forma lúcida um desafio de tamanha proporção a esta altura da sua vida. 

Ela participou assiduamente da Associação das Voluntárias Pró-Hospital Padre Máximo desde o seu início até quando as forças permitiram e sempre com muito entusiasmo e sob a admiração e respeito das demais participantes desta importante instituição beneficente. A família acostumou a dividi-la com a comunidade e entendia como normal que a disponibilidade de atenção dela fosse além daquela que ela dispensava ao círculo familiar, reconhecendo naturalmente sobre o quão grande era o seu envolvimento e preocupação com os membros da coletividade. 

Ela tinha uma preocupação imensa com várias pessoas que estavam passando por dificuldades de saúde. Até depois de bem idosa pedia às vezes que a levassem à residência do doente para ela visitar. Era comum ela ligar para diferentes pessoas para saber como elas estavam passando com sua saúde. 

Tudo funcionava como se lá do quarto da casa dela ela pudesse monitorar e acompanhar o que se passava com essas pessoas, mesmo estando em fase bem avançada em sua idade. Era muito comum aparecer pessoas em sua casa pedindo a Brígida para rezar o responso para Santo Antônio, pelo fato de ter perdido um objeto de estimação ou valioso, na esperança de reaver o objeto ou encontrá-lo. Ela era muito devota de São Judas Tadeu e sempre lhe dirigia orações quando se apanhava diante de situações difíceis. 

Alvo de admiração unânime, tanto pela forma de lidar com toda a sua grande família quanto pelo seu engajamento, espírito de doação e preocupação com toda a comunidade de Venda Nova do Imigrante e cercanias, Brígida Elizabetta Bernabé Feitosa, faleceu em Vitória, no dia 6 de janeiro de 2009, sob um rito honrado com a presença do bispo emérito dom Décio Sossai Zandonadi. 

Aos 102 anos e perfeitamente lúcida, uma estrela apagou-se entre nós para brilhar no aconchego de Deus com toda a sua força e fé que ela sempre externou entre nós neste mundo. 

Conheça um pouco da história de dona Ângela Uliana Peterli

Ângela Uliana Peterli faleceu aos 94 anos de idade, no dia 28 de março de 2023. É filha de Jacob Uliana e Joana Ronfim Uliana, foi casada com o Sr. Lorindo Peterli, com quem teve seis filhos: Irineu Peterli, Enézio Peterli, Deolinda Peterli, Onilda Peterli, Ingrácia Peterli e Inanete Peterli. Ela deixou 12 netos e quatro bisnetos. 

Ângela deixou um grande legado em nosso município, especialmente na comunidade de Alto Caxixe Frio, onde ela e o esposo realização a doação de um terreno onde hoje está construída a Igreja de Nossa Senhora do Bom Parto, assim como o terreno onde hoje está construída a própria Unidade de Saúde. 

A senhora Ângela era uma pessoa educada e muito prestativa. As pessoas diziam que ela era uma médica sem diploma, uma grande parteira. Sempre pronta a atender os chamados das mães que iriam dar à luz. 

A qualquer hora da noite, de madrugada, com frio ou com chuva, ela montava em sua mula e ia ajudar a quem lhe procurava. Nasceram por suas mãos, 400 crianças. Fez partos em diversos lugares, inclusive em barracas de ciganos. Ângela contava que em um dos seus partos que realizou, o pai pegou a criança e levantou para o alto como se fosse um troféu e apresentou para todos a sua volta. Ângela fez muitos cursos de aperfeiçoamento no município de Castelo.

Nesses cursos, ela fez partos na presença de médicos e por eles foi muito aplaudida. Ela vestia-se com um jaleco branco em todos os partos que realizou. Ângela anotou todos os atendimentos que fez por toda sua vida. Ângela atendia os chamados nas comunidades de Forno Grande, Caxixe Quente, São Paulinho do Aracê, Fazenda do Estado, Jucú, São José de Viçosa, e Aracê (Pedreiras). 

Ela era tão boa no que fazia, que quando as pessoas voltavam do médico com as receitas ou injeções, iam direto até ela para solicitar que ela aplicasse as injeções. Por 30 anos Ângela prestou esses serviços as pessoas. Ela possuía um vasto círculo de amigos, era uma pessoa querida por todos, tendo um legado de trabalho e dedicação à família, de modo que sua ausência deixa desolados seus familiares, amigos, colegas e conhecidos. Os filhos agradecem a Deus por tê-la como mãe, companheira, conselheira e exemplo a ser seguido, a saudade será eterna.
 

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