Após os cumprimentos o Dr. Jair disse que  estava ali para fazer um pequeno relato das atividades do Programa Saúde da Família que foi implantado no Município desde novembro do ano passado. Esse programa foi implantado a mais ou menos seis meses no Município. Ele se iniciou mediante um estudo que os países ricos fizeram na década de setenta questionando o funcionamento dos serviços de saúde tradicionais. Observaram que por mais que aumentassem os números de médicos e hospitais a população não estava tendo o devido proveito da assistência médica. Observaram que esse modelo precisava ser melhor analisado para que o povo tivesse melhor proveito do dinheiro ali distendido. Fizeram um estudo na América Central onde provaram que a mortalidade infantil ocorria três vezes mais com as mães e as famílias menos informadas. Então já que esse modelo de longa data não estava dando a segurança científica que o povo precisava, eles se reuniram no Canadá em 1986 na Primeira Conferência Internacional sobre Saúde. Lá foi elaborada a primeira carta moderna sobre a medicina preventiva com o programa de saúde pública visando o bem estar da Comunidade e da humanidade. O Canadá é um dos países mais desenvolvidas nessa área de medicina preventiva e medicina média de Família. Temos também a Inglaterra e Cuba onde o serviço é bem evoluído. Na Constituição de 1998 os nossos constituintes aprovaram esse sistema. O Nordeste foi o que primeiro iniciou a implantação desse serviço. Brasília também, Niterói, Rio Grande do Sul estão bem evoluídos. Nosso Estado começou isso agora, mais de dez anos depois. Com muita alegria tenho que parabenizar o Executivo Municipal pela coragem, junto com sua equipe de saúde de abraçar essa nova fase de mudança de modelo de saúde. Mudança essa que vai ter que conviver adequadamente com o sistema antigo, mas mudando a mentalidade de assistência médica. Levando em conta os determinantes de saúde que vão influir diretamente no processo saúde doença. Os determinantes principais de saúde que tem que ser levados em conta e que os governos que estão comprometidos na mudança vão ter que abraçar a habitação, o emprego, a renda familiar. Esses são os determinantes principais que dão a cada cidadão a tranqüilidade de ter ou não saúde. Eu com muita alegria participo ativamente e estou contente por ter saído do modelo. Não quero trabalhar nesse sistema antigo. Trabalhei dezesseis anos, me formei no Rio de Janeiro, fui professor universitário em Teresópolis, fiz um trabalho de medicina preventiva quatro anos no Rio de Janeiro. Em Brasília fiz um trabalho por quatro meses sobre o Médico de Família. Onde nasci surgiu a oportunidade de trabalhar e aqui tive a oportunidade de ajudar implantar esse programa que vai trazer benefícios as Comunidades carentes e menos favorecidas que não tem o conforto científico que nós temos. Todos aqui tem a tranqüilidade e o apoio psicológico e científico mais modernos. Mas aqueles carentes nunca tiveram. Eles são acanhados de chegar até o médico. Se sentem humilhados. Já fui assim um dia. Quando fui estudar em São Paulo, neste Estado na minha infância nós não tínhamos acesso aos consultórios modernos. Não tínhamos a consideração da ciência da região, como a maioria não tem. Estou muito feliz nesse momento por ajudar este Estado e esse Município na implantação. Para implantação desse programa faltava o médico. O Programa não seria implantado nesse Município se não tivesse o médico. Fui convidado para aqui estar, para aceitar a implantação desse programa. Assinamos um documento para implantação no Município. O Programa foi  implantado mediante um convênio do nosso Município com o Estado, como  Governo do Canadá e a  UFES. Lá nós vamos ser credenciados a multiplicar esse sistema. É uma mudança de modelo assistencial onde o processo saúde e doença está sendo questionado. Temos problemas iniciais, dificuldades na implantação, mas já se  passaram dois meses. Este convênio que foi feito entre o Município, o Estado e o Canadá se divide em duas etapas. A primeira etapa já está vencendo em agosto. Aqui no Município são três pessoas que são credenciadas para multiplicarmos pelo nosso Estado principalmente essa mudança de modelo. Essas pessoas são: Eu, a enfermeira e a assistente social. Nós estamos credenciados a ajudar outros Municípios no modelo de assistência médica. Todos que fazem esse curso estão com esse credenciamento. Alguns vão ter um segundo credenciamento que vão multiplicar o números de pessoas preparadas para continuar multiplicando. Nós dessa primeira fase vamos continuar na cidade ou vamos plantar uma outra sementinha de mudança de modelo em outras cidades do Brasil. Então queria parabenizar o Prefeito juntamente com toda equipe que tiveram a coragem de abraçar isso. São só dezesseis Municípios. Olha quantos Municípios temos neste Estado. Já procurei no passado o Sr. Vasco Alves que estava em Vila Velha onde mantenho minha residência. Hoje Vila Velha lamentavelmente é uns dos Municípios mais atrasados em termos de assistência médica preventiva. Naquela conferência Internacional no Canadá, onde saiu o documento mais importante e  nossos governantes não abraçaram isso. Só que na nossa cidade isso não poderia ficar para trás, pois essa é uma cidade de repercussão Estadual e até Nacional. Esse modelo faz com que o médico passe a ter o convívio fraternal e tenha um conhecimento pleno da família. Ele tem que ter habilidades para atuar naquela família, para aumentar a alto estima daquela família e fazer com  ela nos ajude a cuidar da saúde. Se ela não se convencer que ela é co-responsável na melhoria da qualidade de vida dela e da Comunidade, esse sistema fica falho. Todos nós temos que dar as mãos e  nos inteirarmos mais do que está acontecendo no nosso Município  com relação a saúde. Isso é uma mudança de modelo. Isso leva muito tempo. Vamos ter muitos obstáculos pela frente. O médico, juntamente com a enfermeira e a agente de saúde tem que ter vontade de participar ativamente, pois se isso não acontecer não conseguiremos fazer o Programa Saúde da Família. Venda Nova está de parabéns. As agentes de saúdes são pessoas que dedicam suas vida a este trabalho. Fui na casa de pessoas que choravam e disseram que nunca poderia imaginar um doutor na sua casa. Sentem alegria e não sabem o que fazer com você. Eles são nossos irmãos. Me lembro quando tinha oito anos e era acanhado, pois não tinha a renda necessária para participar disso. Cabe a nós fazer uma grande virada. Os Estados Unidos ainda não absorveu este sistema. Mas os organizadores já estão estudando esse modelo do Canadá para também absorver e mudar o sistema lá existente. Vivemos num sistema capitalista que as vezes se exerce o capitalismo selvagem. Lá nesse novo sistema, primeiro o paciente e a vida. Então não vamos ter apoio dos grandes laboratórios e grandes farmácias.  Vamos fazer uma medicina preventiva e bloquear a doença na sua fonte. Vamos detectar a doença antes que ela se instale. Para isso vamos ter que valorizar o sistema educação saúde. Nosso objetivo é reunir a Comunidades, as lideranças, as Igrejas e as pessoas. Já estamos fazendo na nossa região grupos de hipertensos e reuniões com os casais que tem problemas que as vezes não são psicotrópicos que passamos rapidinho, onde os pacientes não são analisados e nem tem tempo de explicar as coisas. Estou muito feliz aqui e gostaria de lentamente voltar a explanar o PSF que é meu sonho desde que me formei. Não quero fazer mais aquele trabalho, porque o trabalho resolutivo é a medicina preventiva, a medicina do século vinte e um que vai dar saúde real as pessoas.

Data de Publicação: terça-feira, 16 de junho de 1998