Dia Nacional da Consciência Negra

“Boa noite a todos. Quero agradecer mais uma vez, já é o quinto ano que esse momento se faz presente. Então, agradeço o Tiago, os demais vereadores. Boa noite os ouvintes da rádio FMZ e internautas. Então, como eu disse, já é mais um ano que gente vem aqui para poder prestar um serviço para a comunidade. Começo o meu discurso falando as seguintes palavras: Ogum, Oxossi, Oxumaré, Xangô, Iansã e Iemanjá. São palavras que causam estranheza aos que me ouvem. Esses nomes que falei que poucos ou quase ninguém sabe são nomes de alguns orixás das religiões afro-brasileiras. Ousei usar esses termos nessa Casa de Leis, porque vivo em um país com liberdade religiosa e aqui nesse espaço eu consigo falar um pouco sobre essa diversidade que compõe o Brasil. A minha vinda a Câmara municipal nesse ano de dois mil e treze tem algo de muito especial e de percepção. Refiro-me à comemoração do dia nacional da consciência negra e também dos dez anos da lei dez mil e seiscentos e trinta e nove, que oficializa o ensino de história africana e afro-brasileira nas instituições de ensino público e particular e que desses dez anos colhemos alguns frutos positivos, entre eles poder falar em diversidade sem ter medo de ser repreendido. Por esse motivo citei nomes de alguns orixás. Infelizmente há essa falta de conhecimento em relação às nossas origens, fazendo perpetuar apenas a cultura europeia e discriminar o que é referente ao negro e ao índio. Uma das ideias dessa lei é proporcionar conhecimento sobre quem somos culturalmente. É entender que para além das doutrinas religiosas, a religiosidade brasileira é diversa e rica em informações sobre a nossa história. É aprender com esses universos de matriz africana, sem necessariamente se converter a religião. O africano faz parte da formação social do Brasil e conhecer, valorizar a sua contribuição, é essencial para nos substentarmos do coletivo, como nação soberana e individualmente como pessoas. "Para qualquer pessoa se afirmar como ser humano ela tem que conhecer um pouco da sua identidade, das suas origens, da sua história", disse Kabengele Munanga, professor de sociologia da USP e vice-diretor do centro de estudos africanos da instituição. A intenção da lei dez mil e seiscentos e trinta e nove é contribuir para a superação dos preconceitos e atitudes discriminatórias por meio de práticas pedagógicas e de qualidade que incluem o estudo da influência africana na cultura nacional. Segundo os dados oficiais do MEC, a não aplicação da lei está relacionada basicamente a três fatores, despreparo e desconhecimento dos professores com relação ao tema, pouco material de estudos produzidos sobre a história e cultura dos afro-brasileiros no Brasil, preconceito de algumas instituições. A sociedade como um todo precisa debater esses assuntos. Para que isso aconteça necessita que as instituições de ensino cumpram seus papéis, promovendo a construção de uma pedagogia da diversidade, garantindo o ensino da história da cultura africana e afro-brasileira. Esse entendimento poderá nos ajudar a superar opiniões preconceituosa sobre os negros, a África, a diáspora, a denunciar o racismo e discriminação racial e a implementar ações afirmativas, rompendo com um mito da democracia racial. Mais uma vez podemos afirmar categoricamente que o Brasil é racista com as mulheres negras, com os jovens negros e negras. A prova disso são os índices de violência contra esses grupos. O que temos em mãos para desconstruirmos esses dados é a educação e que essa educação seja digna e respeitosa com todas as culturas. Oyá cruzou o fogo no céu mandando Xangô chamar Oxóssi, Ibeji e Oxum, para dizer que somos todos um. Axé a todos. A palavra "Axé" é de origem Orubá e significa força e poder. Axé equivale ao que nós dizemos no catolicismo "Amém", que significa "que Deus permita". É isso que a gente espera que nas comemorações dos próximos anos, no dia vinte de novembro, que a gente tem dados mais positivos para serem comemorados. Muito se avançou, mas nós temos um caminho ainda muito longo e a implementação da lei dez mil seiscentos e trinta e nove tem sido um desafio muito grande para todos os educadores, para todos aqueles que acreditam na diversidade e na democracia desse país. Os dados são oficiais, não são invenções, mas eles existem exatamente para poder provar aquilo que nós já sabemos da discriminação. Quando falo eu falo em nome da comunidade negra, não só de Venda Nova, mas do estado, do país, como mulher, como professora, que nós não dependemos da pena, que nós não queremos ser colocados como coitados, nós temos no nosso lugar, nós temos o nosso espaço, nós sabemos das dificuldades que nós enfrentamos a cada dia. No domingo eu estava assistindo um programa, aí, um ator negro disse que dá a impressão que a gente mata três leões por dia e quando a gente olha tem mais dois vindo. É exatamente essa a descrição. Nós sabemos, como já foi colocado aqui, é através do olhar, através da forma como medem a gente de cima a baixo, mas a gente nunca deixou se abater. Se nós estamos aqui é porque os nossos ancestrais tiveram força suficiente para poder superar isso tudo e nós também não podemos ficar presos a questão da escravidão. O que essa lei, a lei dez mil seiscentos e trinta e nove promove é a nossa história de raiz, de ancestralidade, nós temos ancestralidade. A história do negro no Brasil não começa dentro dos porões dos navios e quando chegaram nos portos para serem vendidos. Então, nós temos uma história, nós temos uma referência, nós temos orgulho disso, nós precisamos cada vez mais políticas afirmativas, apesar de ser um entrave também dentro do nosso país, mas isso se faz necessário exatamente para poder recapitular, para poder então dar esse verdadeiro valor que a nossa cultura, que nós precisamos ser tratados como cidadãos, não como coitados, não como descendentes de escravos, que ficou para trás, que não tem competência. Nós temos as mesmas capacidades, só que sabemos que as oportunidades são diferentes e isso é fato. Por mais pessoas critiquem cotas, por mais que as pessoas não aceitem, mas a educação pública é falha, é desigual. Nós que estamos no chão da escola sabemos como isso se faz, é discriminatório sim, a forma como muitos professores tratam os alunos e negras e brancos dentro da escola pública ou em qualquer outra instituição a diferente, nós sabemos que nos hospitais os médicos, as consultas que são feitas para mulheres negras são diferentes, esse é o chamado racismo institucional, são dados oficiais, que o número de mulheres com doenças, na questão de câncer de útero entre outros exames mais minuciosos que precisam, já foram divulgados em cursos, que vêm de pessoas que têm conhecimento, que a forma como esses médicos examinam as mulheres negras é diferente e isso são dados que não sou eu, professora Celina, que estou falando, são dados oficiais, basta a gente ter um pouco de interesse e procurar. Então, sobre essas questões que a gente vem aqui falar, sobre essa desigualdade, não de ter pena, de falar que fomos escravos. Fomos, mas estamos aqui na sociedade para trabalhar e ajudando a construir esse país dignamente. Para finalizar, no ano passado falei aqui sobre o projeto "Tropeiros" que nós da escola Fioravante iríamos desenvolver e nós então fizemos miliciano projeto. Quero agradecer primeiro a todos que colaboraram, o Tarcísio aqui da Câmara, o Pepê, que ajudou a gente a produzir os nossos trabalhos e as nossas idas e vindas. O projeto tinha um objetivo exatamente de propor o desenvolvimento, de mostrar o desenvolvimento econômico que Venda Nova através do tropeirisno, mas também destacar um pouco sobre a diversidade de negros e brancos dentro desse contexto. E nós conseguimos então chegar a alguns nomes de algumas pessoas que já são conhecidas na comunidade, como o Chico Boi, Fumaça, Simão, Rodolfo Feu entre outros tropeiros que vivem nas histórias, que viveram em São João, que viveram em outros caminhos e que tiveram uma importância muito grande na economia desse município, porque a nossa contribuição não é só cultural, nós temos uma importância econômica dentro do nosso país, outrora a forma como se referiam aos mineiros era as mãos e os pés do senhor de engenho, e isso era fato. Isso foi e isso é até hoje. Então, o que teve de resultado nesse projeto? Nós fizemos aqui um folder com uma rota dos tropeiros, de alguns tropeiros, que teve a colaboração do Pepê, quero agradecer muito pelo seu trabalho voluntário, fizemos um dicionário das tropas com os termos e objetos que eram utilizados por eles também, além de um vídeo que nós fizemos com alguns alunos que se vestiram de tropeiros que nós fizemos desde o pé da serra de Lavrinhas até a fazenda do senhor Armando Pizzol. O objetivo era retratar uma tropa, mas não foi possível por questões maiores. Os alunos então se vestiram de tropeiros que nós fizemos uma caminhada. Então, tem um vídeo pronto e todos os trabalhos que os alunos desenvolveram serão postados em um blog que também está sendo finalizado e a comunidade vai poder então conhecer um pouco da história desses homens que eu citei, desses tropeiros e os demais trabalhos que estão sendo desenvolvidos pelos alunos. Agora, só apenas os agradecimentos a professora Ângela, que foi a minha parceira até agora no desenvolvimento, Ângela Freitas, da escola Fioravante Caliman, todos aqueles que de uma forma ou de outra contribuíram, o senhor Angelim Sossai, quero agradecer o senhor João Pizzol, o Carlinhos Pizzol, dona Ana Comarella e também o senhor Angelim Falqueto pelo empenho, pela determinação, pela vontade que ele foi junto com a gente no museu em Ibatiba, de ir lá, de fazer todo o trabalho, de mostrar para os alunos, enfim. Temos que agradecer muito trabalho dele. Também o senhor Armando Pizzol, que cedeu a casa dele para a gente fazer esse trabalho, as meninas se vestir de mulheres dos tropeiros, filmamos tudo. Então, tem um vídeo que vai estar pronta em alguns dias para ser mostrada essa caminhada que os alunos fizeram para poder tratar desse período das tropas. Ficou de uma forma simples, mas a gente conseguiu atingir o nosso objetivo. Aí, quer agradecer os alunos do terceiro ano da escola Fioravante Caliman, todos que participaram, que se empenharam, não deixar nenhum momento a desejar os trabalhos que eles fizeram, quero agradecer muito a eles, todos da escola, direção, todos que se empenharam para o desenvolvimento dos trabalhos. Então, da que os dias vamos ter o trabalho divulgado na comunidade que também é fruto do trabalho "Histórias e memórias" que com recurso que escola ganhou a gente pôde financiar todo esse projeto sobre os tropeiros que estamos finalizando. Então, quero agradecer a todos, quero agradecer mais uma vez, pelo quinto ano estamos aqui lembrando essa data e espero que essa discussão então seja permanente e que a gente não pare para lembrar isso somente no dia vinte. É importante comemoração, mas o nosso trabalho é contínuo. Então, muito obrigado a todos e quero agradecer a todos pela oportunidade mais uma vez.”

 

Parte: “Esse livro, na verdade, está na biblioteca da escola Fioravante Caliman. Então, as pessoas que quiserem ter acesso, lá tem alguns volumes, porque foram feitas duzentas tiragens. Aí, entregamos para as famílias, para os alunos que participaram e distribuímos para algumas escolas e temos então na biblioteca da escola Fioravante Caliman. Só fazer um lembrete que esse material que nós estamos confeccionado, o dicionário e o folder, vai ser distribuído nas escolas também para melhorar a pesquisa.”

Data de Publicação: terça-feira, 19 de novembro de 2013

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